terça-feira, 7 de agosto de 2018

A Lebre e a Tartaruga





A Lebre andava sempre ligeira, quase a correr como o vento, e fazia-lhe nervoso ver a pachorrenta da Tartaruga a caminhar vagarosamente para onde quer que fosse. Chovesse ou fizesse sol, houvesse perigo ou não, a Sra. Tartaruga não passava do seu passo habitual, pausado e sossegado.
Nos dias de festa, quando a bicharada combinava para sair junta e todos se punham a andar, era certo e sabido que a velha Tartaruga ficava à cauda do rancho, a fechar a marcha, a andar compassada, tão mole, tão mole, que a Lebre tomava fôlego, andava pelas duas e duas à frente de todos, a correr, como lebre que era.
            E um belo dia não se conteve e disse para a Tartaruga:
            - Se eu fosse como a senhora já tinha morrido de aborrecimento. Eu podia cá andar nesse passinho de enterro! Eu ainda queria vê-la correr comigo, a ver se espertava.
            - Muito bem – respondeu a Tartaruga, pacatamente. – Vamos lá experimentar isso. Fazemos uma corrida de cinco quilómetros, e aposto que quem vai ganhá-la sou eu.
            - Bonita aposta! – replicou a Lebre. – Vamos já sair de dúvidas.
Convidaram a raposa para juiz e ambas partiram para a corrida.
A Lebre, como sempre, largou veloz como um foguete e em pouco tempo se perdeu de vista. A Tartaruga, como era seu costume, deixou-se ficar a andar lentamente, a andar… a andar… pela estrada fora.
            Depois de correr um bocado, a Lebre voltou-se para trás e, não avistando a tartaruga, deu uma gargalhada.
            - A esta hora ainda ela está dando as primeiras passadas. Nem me vale a pena andar mais por agora. Até tenho tempo de dormir uma soneca enquanto espero por essa papa-açorda.
            E deitou-se na relva fresquinha e apetitosa que havia à beira do caminho, principiando logo a dormir. Dormiu, sonhou, ressonou… e entretanto a Tartaruga, que vinha a andar devagar, muito devagarinho, mas sem perder um momento, passou junto dela, viu como a sua contendora dormia descuidadamente, sorriu-se e continuou o seu caminho.
            Quando a Lebre acordou voltou a olhar para trás.
“Ainda não há de vir a meio caminho” pensou. Agora em quatro pulos chego ao fim e ganhei a aposta.“
Mas quando olhou para diante viu a Tartaruga, que acabava de chegar naquele instante ao lugar combinado para o fim da corrida. Tinha ganho a aposta!
            E a Lebre, abatida no seu orgulho de boa corredora, ficou a pensar:
“Não é por muito madrugar que amanhece mais cedo.”

ALSÁCIA FONTES MACHADO, Fábulas de Animais e Outras, Editora Vega, 1994




4 comentários:

  1. Muito giro! A espertalhona da Lebre aprendeu uma lição! Gostei da motal da história!
    Bjs

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  2. Bem-feito!!! Aprendeu uma grande lição.
    Tadinha da tartaruga… Temos de respeitar todos com as suas características particulares, ora essa!
    (bem… desde que eles tb não abusem da nossa boa vontade)

    Beijoca grande para a nossa donzela "sempre à janela"... até fiz verso…
    Gostaste?

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    Respostas
    1. Muito obrigada por ter gostado do conto!
      Gostei muitíssimo do verso!!!!!!

      Um abração

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