A
Lebre andava sempre ligeira, quase a correr como o vento, e fazia-lhe nervoso
ver a pachorrenta da Tartaruga a caminhar vagarosamente para onde quer que
fosse. Chovesse ou fizesse sol, houvesse perigo ou não, a Sra. Tartaruga não
passava do seu passo habitual, pausado e sossegado.
Nos
dias de festa, quando a bicharada combinava para sair junta e todos se punham a
andar, era certo e sabido que a velha Tartaruga ficava à cauda do rancho, a
fechar a marcha, a andar compassada, tão mole, tão mole, que a Lebre tomava fôlego, andava pelas duas e
duas à frente de todos, a correr, como lebre que era.
E um belo dia não se conteve e disse
para a Tartaruga:
- Se eu fosse como a senhora já
tinha morrido de aborrecimento. Eu podia cá andar nesse passinho de enterro! Eu
ainda queria vê-la correr comigo, a ver se espertava.
- Muito bem – respondeu a Tartaruga,
pacatamente. – Vamos lá experimentar isso. Fazemos uma corrida de cinco
quilómetros, e aposto que quem vai ganhá-la sou eu.
- Bonita aposta! – replicou a Lebre.
– Vamos já sair de dúvidas.
Convidaram
a raposa para juiz e ambas partiram para a corrida.
A
Lebre, como sempre, largou veloz como um foguete e em pouco tempo se perdeu de
vista. A Tartaruga, como era seu costume, deixou-se ficar a andar lentamente, a
andar… a andar… pela estrada fora.
Depois de correr um bocado, a Lebre
voltou-se para trás e, não avistando a tartaruga, deu uma gargalhada.
- A esta hora ainda ela está dando
as primeiras passadas. Nem me vale a pena andar mais por agora. Até tenho tempo
de dormir uma soneca enquanto espero por essa papa-açorda.
E deitou-se na relva fresquinha e
apetitosa que havia à beira do caminho, principiando logo a dormir. Dormiu,
sonhou, ressonou… e entretanto a Tartaruga, que vinha a andar devagar, muito
devagarinho, mas sem perder um momento, passou junto dela, viu como a sua
contendora dormia descuidadamente, sorriu-se e continuou o seu caminho.
Quando a Lebre acordou voltou a
olhar para trás.
“Ainda
não há de vir a meio caminho” pensou. Agora em quatro pulos chego ao fim e
ganhei a aposta.“
Mas
quando olhou para diante viu a Tartaruga, que acabava de chegar naquele
instante ao lugar combinado para o fim da corrida. Tinha ganho a aposta!
E a Lebre, abatida no seu orgulho de
boa corredora, ficou a pensar:
“Não
é por muito madrugar que amanhece mais cedo.”
ALSÁCIA FONTES MACHADO, Fábulas de Animais e Outras, Editora Vega, 1994
Muito giro! A espertalhona da Lebre aprendeu uma lição! Gostei da motal da história!
ResponderEliminarBjs
Olá Carla,
ResponderEliminarObrigada e bjs
Bem-feito!!! Aprendeu uma grande lição.
ResponderEliminarTadinha da tartaruga… Temos de respeitar todos com as suas características particulares, ora essa!
(bem… desde que eles tb não abusem da nossa boa vontade)
Beijoca grande para a nossa donzela "sempre à janela"... até fiz verso…
Gostaste?
Muito obrigada por ter gostado do conto!
EliminarGostei muitíssimo do verso!!!!!!
Um abração